COZINHA FUNCIONAL

COZINHA FUNCIONAL BY BRUNO MORAES

Artesanato e design brasileiros são a essência da Cozinha Funcional, estreia do arquiteto Bruno Moraes na CASACOR São Paulo

Sob o comando do BMA Studio, Bruno Moraes apresenta sua cozinha com atmosfera despretensiosa, tons claros e muito madeira, e participa pela primeira vez da maior e mais importante mostra de decoração e arquitetura das Américas.

A Cozinha Funcional marca a primeira participação do arquiteto Bruno Moraes na CASACOR São Paulo 2023. Material bem brasileiro, a bancada de granito branco itaúnas e a marcenaria num rosa antigo (CelMar) são as atrações do espaço cheio de histórias | Foto: Guilherme Pucci

A CASACOR São Paulo 2023, finalmente, chegou! No Conjunto Nacional, pela segunda vez, a 36ª Edição promete marcar história. Com o tema Corpo & Morada, a arquitetura afetiva deve permear todos os espaços, apresentando as relações do lar com o corpo e a mente dentro de uma sincronicidade que envolve a maior metrópole brasileira e o planeta como um todo. Acompanhando essas resoluções, o arquiteto Bruno Moraes, à frente do BMA Studio, vive a experiência de assinar, pela primeira vez, seu ambiente autoral na maior mostra do segmento das Américas, batizado de Cozinha Funcional.

Para compreender profundamente as inspirações de Bruno, precisamos viajar no tempo, para meados de 2020. Após um desafiador período de reclusão social, o ser humano foi convidado a ressignificar costumes e rotinas dentro de casa, atribuindo novas acepções para atividades que, até então, eram realizadas de uma maneira mais automática e com uma parcela menor de sentimentos. Residências deixaram de ser apenas uma edificação para se configurarem como um verdadeiro refúgio de reconexão, abrindo um portal para que as pessoas redescobrissem seus próprios lares. E, gradativamente, o desejo se encaminhou por conceder mais personalidade, bem-estar e as aplicabilidades almejadas para cada ambiente.

A arquitetura da Cozinha Funcional, proposta por Bruno Moraes, trabalha com muitas formas orgânicas, desde o brise na fachada, que abraça o layout em curva. Outra atração logo na entrada é a escultura do escultor e arquiteto Samuel Angelo | Foto: Guilherme Pucci

Contudo, essa filosofia não é novidade para arquiteto o Bruno Moraes. “Esse sentimento é almejado não apenas em um contexto solitário, mas também como uma maneira efetiva de propiciar o contato e a interação entre os familiares. A arquitetura afetiva se traduz na construção desse elo com as moradas, que por sua vez contribui para nossa saúde mental, física e espiritual”, declara. De acordo com ele, essa leitura é primordial para transformar nossa visão quanto ao lugar que habitamos e construímos a maioria das nossas memórias.

A imersão por essa experiência idealizada começa logo na entrada. Com a proposta de uma cozinha viva, que transmite uma recepção calorosa, o espaço vai muito além de apenas preparar as refeições para acolher e interagir com quem chega. Tudo começa com uma fachada de brises, que além de controlar a entrada de luminosidade e a privacidade, permite um pequeno ‘spoiler’ dos 80 m² apresentados por Bruno – 68 m² para a cozinha e sala de jantar, somados aos 12 m² para a cozinha de apoio, que fica atrás do ambiente e será essencial nos eventos da Cozinha Funcional.

Os brises da fachada abrem e fecham, criando uma conexão com o tema da CASACOR São Paulo, Corpo & Morada. “A ideia foi projetar uma solução que permita olhar para fora, ver o jardim, ou também pode ser fechada, como nosso corpo, nossos olhos”, explica Bruno. “Essa fachada respira, ventila, abrindo seus brises, assim como os poros da nossa pele, que reagem de acordo com a temperatura”, continua.

A recepção desperta o humor e a emoção ao promover o equilíbrio entre o poético e o funcional, em uma antecipação da leitura afetuosa que o visitante perceberá. A escultura ‘Menino Além do Espelho’, do escultor e arquiteto Samuel Angelo, é um convite para viajar em recordações da infância enquanto prepara-se o menu entre as duas bancadas. “Como a ideia era conceber uma cozinha afetiva e nostálgica, com elementos rústicos e brasileiros, escolhemos uma escultura de criança, brincando com bolinhas de gude douradas, justamente para fazer o visitante se aprofundar nas próprias memórias desde a entrada do ambiente”, comenta Bruno.

A cozinha, que sempre foi considerada um ambiente neutro, recebe, nessa ocasião, um toque de ousadia. Apostando num rosa antigo, Bruno Moraes comprova e exalta as cozinhas coloridas como tendências cada vez mais afetivas, sendo responsáveis por trazer alegria e descontração ao décor. Além disso, a projeção e distribuição da marcenaria e seus nichos são eficazes em seu propósito de facilitar o ato de cozinhar, assim como receber bem o morador e seus convidados. “Uma das nossas principais preocupações era tornar presente a natureza em vários pontos do projeto, desde a transparência entre o brise, que permite visualizar o paisagismo externo, até o nicho dos temperos sobre a bancada e as plantas na prateleira superior”, conta o profissional.

Em sua Cozinha Funcional, o arquiteto Bruno Moraes buscou evidenciar os traços de uma brasilidade tão marcante na nossa arquitetura por meio do uso do granito branco itaúnas (Botânico Mármores), dos pilares brutos, originais do Conjunto Nacional, mantidos em evidência e da simplicidade dos objetos artesanais, como o Vaso Forma, assinado pela mineira Suka Braga e exposto na Semana de Design de Milão | Foto: Guilherme Pucci

Centro da cozinha, a bancada de 4,4 m de extensão, com parte em balanço e dois tipos de acabamentos (flameado e levigado), lembra a pedra no estado bruto. Ela é completa, recebe morador e convidados para transformar ingredientes em receitas usando o cooktop e o apoio da coifa robusta. “Para enfatizar ainda mais essa ligação entre corpo e morada, na bancada optamos por não empregar componentes químicos e nocivos à saúde, como é o caso das pedras industrializadas”, afirma o arquiteto. Com a mesma premissa da sustentabilidade, toda estrutura metálica empregada para o projeto será reaproveitada após o período de exposição. Enquanto dispõe de um generoso espaço para o mise en place, as banquetas Arturo, assinadas pelo designer Paulo Teixeira revelam um desenho contemporâneo e surpreendente.

O cuidado com a casa na hora de preparar as refeições foi perfeitamente apresentado pelo arquiteto Bruno Moraes com a inclusão de horta orgânica com temperos variados. Para ele, cuidar do lar é como cuidar do corpo. | Fotos: Guilherme Pucci

Com uma marcenaria que resgata o provençal revisitado (leves sulcos entram no lugar portas e gavetas almofadas), a cozinha dispõe de uma cristaleira que recebe todo repertório de vinhos, tornando a experiência ainda mais inesquecível. Os utensílios de cerâmica que compõem a decoração do mobiliário enraízam a cozinha no contexto da cultura brasileira, com beleza sem igual. Peças de barro, vindas de comunidades de artesãos mineiros, como a cidade de Monte Azul, fotografias e itens de colecionadores se misturam com samambaias e outras plantas com essência genuinamente nacionais.

Contando com peças exclusivas de Bruno Faucz e Tadeu Paisan, o arquiteto mescla o design brasileiro com seu olhar multifacetado, resultado de seu profissionalismo e sua

recente visita na Semana de Design de Milão, expondo um belíssimo vaso que trouxe diretamente de lá, assinado por Suka Braga. A iluminação do ambiente também é estratégica, combinando perfis de led, AR70 No Frame, spots de sobrepor e pendentes, onde o mais importante não são as luminárias, mas o efeito luminoso. Na área mais funcional, voltada para o preparo dos alimentos, uma solução mais fria foi a escolhida e, nos arredores da mesa de jantar, luzes quentes tornam o local acolhedor e intimista.

Para sua Cozinha Funcional, o arquiteto aprofundou-se na história dos nossos ancestrais e, na intenção de homenagear a cultura brasileira, inspirou-se em atributos da cultura e arte indígena. “Trouxemos o trabalho do fotógrafo Rogerio Fernandes com imagens em tribos indígenas vivendo na natureza, a grande morada de todos. Além de resgatar as origens do nosso país, os cliques expostos compõem uma Gallery Wall e se enquadram com o tema Corpo e Morada, uma vez que manifestam a mais plena harmonia do ser humano com o seu habitat”, sintetiza o arquiteto.

Na Cozinha Funcional, a sala de jantar reflete as formas orgânicas com as curvas dos brises, da mesa Domo, assinada por Studio J. Marcon (Full House), e dos pendentes Tempo (Yamamura). O rústico dos pilares aparentes tem continuidade na escolha do piso de porcelanato (Portinari). No décor, o Bruno Moraes escolheu objetos que resgatam e conscientizam os visitantes sobre a importância cultura indígena na formação do país | Fotos: Guilherme Pucci.

No ambiente da sala de jantar, o gallery wall, formado pela com a exposição fotográfica, anda expõe objetos que viveram diretamente dos povos indígenas como uma forma de ilustrar ainda melhor essa história com mais profundidade. Em formato orgânico, a mesa de jantar de madeira, acompanhada por seis posições de cadeiras, é uma extensão da cozinha e uma oportunidade para sempre renovar a experiência no espaço.

Bruno Moraes dispõe de uma imensa realização com o seu espaço no evento. “Sempre quis participar da mostra. Frequento a CASACOR antes mesmo de entrar na faculdade de arquitetura, em 2004 e, desde então, nunca perdi uma edição sequer. E após quase duas décadas, exulto em alegria pela oportunidade de mostrar meu trabalho”, conta ele, expressando toda felicidade e gratidão.

A brasilidade e as memórias estão presentes em cada canto da Cozinha Funcional. No alto, os pinos usados de cabide são de estações ferroviários do início do século, já o carrinho de chá (Full House), que faz as vezes de bar e leva a assinatura do designer Tadeu Paisan, foi batizado com o nome do arquiteto Bruno Moraes, autor da bandeja de pedra de mármore Verde Alpi (execução da Botânico Mármores) | Fotos: Guilherme Pucci

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